8 de mar. de 2013

A Virada

Naquele ano fora preciso
tirar do peito um pedaço
Sugar do sangue um riacho
pra lavar a alma de si mesma.

Dizer não te amo,
pra gritar em seu ouvido
o quanto te queria.

Apostar na última carta
pra não deixar mais rastro pro talvez.

Sentir a beleza desfiando pela mão
pra encará-la de frente
e torná-la uma lição

Negar a morada
pra chorar a despedida
Matar o ébrio em si,
pra encontrar Dionísio e seus afins.

Ceder para ganhar
Estancar para caminhar
Emudecer para assim cantar
Ter a si mesmo depois de tanto desvairar

Ou santo ou louco

O rosto de Smierdiákov nada teria revelado a um fisionomista; nenhum pensamento, pelo menos, apenas uma espécie de contemplação. [...]. Se algém desse um encontrão nele, estremeceria  e olharia  como quem desperta, mas sem compreender. Na verdade, voltaria logo a si, mas se lhe perguntassem em  que pensava, certamente não se lembraria de nada, mas, em compensação, guardaria para si a impressão que o dominava durante sua contemplação. Essas impressões são importantes para ele e se acumulam nele sem que o perceba, mas ele ignora o objetivo disso. Um dia, talvez, depois de havê-las armazenadas durante anos, deixará tudo e partirá para Jerusalém, a fim de tratar de sua salvação. Ou então ateará fogo à sua aldeia natal, ou fará as duas coisas sucessivamente. Há muitos contemplativos em nosso povo. Smierdiákov era certamente um tipo assim e armazenava avidamente suas impressões, quase sem saber a razão disso.


Os Irmãos Karamázov