O rosto de Smierdiákov nada teria revelado a um fisionomista; nenhum pensamento, pelo menos, apenas uma espécie de contemplação. [...]. Se algém desse um encontrão nele, estremeceria e olharia como quem desperta, mas sem compreender. Na verdade, voltaria logo a si, mas se lhe perguntassem em que pensava, certamente não se lembraria de nada, mas, em compensação, guardaria para si a impressão que o dominava durante sua contemplação. Essas impressões são importantes para ele e se acumulam nele sem que o perceba, mas ele ignora o objetivo disso. Um dia, talvez, depois de havê-las armazenadas durante anos, deixará tudo e partirá para Jerusalém, a fim de tratar de sua salvação. Ou então ateará fogo à sua aldeia natal, ou fará as duas coisas sucessivamente. Há muitos contemplativos em nosso povo. Smierdiákov era certamente um tipo assim e armazenava avidamente suas impressões, quase sem saber a razão disso.
Os Irmãos Karamázov
8 de mar. de 2013
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