14 de ago. de 2008

Outro poema antigo, esse feito para aula do João Moreira Salles em 2004. É sobre um filme/ Globo Repórter chamado Retrato de Classe. Era vésperas de me formar e eu estava cheia de perguntas na cabeça e muita vontade explodindo no peito...

Um Retrato Retocado

Falaram-me que o tempo passa
- invisível.
Vi que as pessoas se matam
- e continuam vivas.
Ouvi que os casamentos afogam
- e matam de sede.
E que os pais amarram os filhos
para que não voem.

Chorei por que tive medo
Por que tive certeza
Que é isso que querem que eu faça.
Sorri por que me lembrei que não!
Não é isso que eu quero que eu faça.

Não quero boiar
como a sementinha jogada no rio.
Nem me acabar na terra rachada e seca.
Quero brotar.

Disso um Retrato de Classe me fez lembrar...

Mas o meu retrato ainda quer ser diferente deste.
(No conteúdo e tanto na forma)
No conteúdo quer ser livre,
Não contrato.
Na forma quer ser poesia,
ponto de vista,
papel assinado embaixo.
Não discurso escondido,
sem nome,
absoluto - como um documento.

Mas minha vida de classe também quer ser igual ao Retrato.
(No conteúdo e tanto na forma)
No conteúdo também quer ser humano, demasiadamente humano.
Na forma, revolucionário, rompante
- como uma arte.

12 de ago. de 2008

Regras da vida

Burocrática vida,
estaticamente tediante,
caverna numérica
labirinto sem saída.

Ligações virtualmente reais
não dão sinais,
não enviam postais

de vida,
de instâncias pessoais.

Os vasos estão entupidos.
As veias fracas de sangue!

Vidas floridas,
por favor, floresçam!

Já basta
de vidas secas,
enfurnadas mentes,
minhocas caminhando na pele,
falta de ar.

Falta que me faz traçar caminhos nas estrelas.

Jogar fora esses ponteiros, e
saber a hora pelo sol.

Quero deitar a cabeça
no ombro, na pele, barriga.
Quero tirar a bunda da cadeira
e as regras do papel!

E enfiá-las como anel de matrimônio
No dedo da consciência,
na legislação do querer.

Por uma vida em família
dias bem-vindos vividos,
amor de graça doado e
canção por todos tocada.



Rio de Janeiro, Janeiro de 2001

11 de ago. de 2008

Poema de um livrinho antigo meu: poema de 2001. Lá se vão os anos, aqui se volta a rota, eterno e maravilhoso retorno, sempre igual, sempre outro.


Não sei

Hoje não sei
reconhecer vontade
evitar desvontade.
Hoje pego o que me dão,
ouço qualquer canção.

Tudo vem sem desconcerto,
sem acerto.
E você com esses olhos de inverno
gelados atrás do vidro externo,
me deixa sem saber se
abro ou travo
essa janela que bate
me oferecendo aconchego
me suplicando um abraço.