27 de out. de 2013


Les murs étaient couverts de dessins. Imitant Frida Khalo, j'avais réalisé une série d'autoportraits contenant chacune un fragment de poésie en fonction de mon état émotionnel morcelé. J'imaginais sa souffrance intense qui semblait amenuiser la mienne.

En el Retiro

Así, quién sabe
después de la noche de insomnio,
mejor va a ser capaz de escuchar a los pájaros cantando
y ver la hierba verde brillante. 
A mente exausta
faz  mais sentir o coração,
pois tristeza que vem do cansaço
cerra a boca e liberta os sentidos esquecidos.

The key to paradise

Find the time to think
Find the time to pray
Find the time to laugh
This is the fount of power
This is the greatest power on earth
This is music for the soul
Find the time to play
Find the time to love and be loved
Find the time to give
This is the secret of eternal youth
This is the privilege given by god
The day is too short to be selfish
Find the time to read
Find the time to be a friend
Find the time to work
This is the fount of wisdom
And the road of happiness
And the price of success
Find the time to be charitable
This is the key to paradise

Madre Teresa de Calcutá

4 de set. de 2013


Visões da cidade


Luzes da cidade.
Idade que vai passar.
Memória que busco salvar.

E se o tempo hoje novamente o vento não trará,
trato logo de evitar seu afogamento natural,
dado não ser banal lembrar que só por hoje há o que no hoje há.

E o carona me concede assento
O banco de trás me espana o olhar.
É o lar de quem curte dança de olhos
por belezas fundidas entre sombras, monstros, dissonâncias urbanas, babilônicas
- Estranhas organizações estéticas:

"Um chafariz memória jorrava água
- água se fez varal, gotas meros trapos.
E o chafariz se impôs presente.
Suplicou retrato.
Tirei com as sinapses ativas.
E ali mais adiante
uma pintura horizontal que se finge mendigo
da rua do Glória pra se fazer lembrar,
logo corta em edição real prum mendigo carnal
que se camufla em tinta de asfalto pra se fazer esquecer.

Registros que ficam pra rever."

Metamorfoses industro-comércio-naturais
que, tal qual recifes coloridos,
não são mais que mosaicos de resíduos que se atraem.

É a cidade.
Conturnabanizações e sumaposição.
E é bela, bela, bela!
De tão feia e suja.

Pois que é beleza que não se expoem apenas se 'intro'poem.
Crescendo pra dentro.
- E se crescesse pra fora que diferença faria?
Estou engolido por ela, só vejo do útero, só entendo de dentro.
E de perto, bem perto, bem íntimo.
Sinto o bafo da cidade, escuto-a ofegar.

E quem não faz? Tá todo mundo perto.
E normal quem é visto tão tet a tet ?

Por isso tão fácil julgar tão feia, distoante,
intoxicante essas luzes que me cruzam,
esses muros que me chutam.

Mas agora, nesse caminho a três,
à beira de um centro iluminado a poste e faróis
repleto de ratos e embrulhos de caixotes, estico o fino do olhar.
Sem tirar os pés do chão molhado de sujeira de tempo me afasto da cidade,
olho minha devoradora por inteiro.

O caos então, e nem um pouco em vão, revela que é sim sintonia.
O mal se vira e diz "sou bem!"
A dança catártica que dançamos desnuda seus passados arquitetados.
Afinal... por que o mundo perderia tempo sem conceder uma valsa a si mesmo?

(Cheguei a casa da avó sem ela saber e no momonto exato que no monitor minha imagem selada a encarava).

(São luzes que aqui se acendem enquanto três sinetas em escala se empostam. Sincronias de curtas metragens.)

(E essa dança é também eu sonhando contigo enquanto você repete a um qualquer conversa rara que a tanto tempo tivera comigo. E é algum tempo depois, você cruzando a calçada e eu viajando no ônibus que te fecha o percurso. Enquanto lá longe alguém filosofa que sem nenhum esforço tudo caminha, inevitavelmente, pro seu ponto de encontro.)

Foram as luzes da cidade
e essa idéia de que a idade vai passar
e que a memória deve ficar junto com a imaginação que deve aguçar.

Pois tudo que aqui não agrada, agride,
de mais alto é coreografia, aquarela, sonata.

É extase virando a terra em céu - transmutação e a cabeça pro pé

- reverência!
Estão torturando a carteira!
Primeiro arrancaram seus pés.
E há muito, coitada, não consegue se erguer.
Perdeu a base, perdeu a fase de aprender a caminhar sozinha.
Agora cortam-lhe os braços. Sem nenhum pudor.
Cortam-lhe os meios de, mesmo sem pernas, conseguir voar.
Sobra-lhe a madeira reta,
fácil de pisar.
Fácil de usar.
Fácil de empilhar.
Bem mais simples de vender.
Só para que cheguem aonde ninguém precisa chegar.
Só para que possam o que ninguém precisa poder.
Mas eles querem esse poder e parecem conseguir.
Vão subindo em cima das fracas carteiras, das fracas escolas, do fraco saber.
Vão subindo em cima de nós.
E assim,
acreditam chegar bem perto do céu
- não para encontrar algum deus,
mas só para, coitados, se tornarem reis.

Perdoamos? Já que se sabe mal do homem essa ideia de querer sempre mais.
Ou avançamos? Já que é um bem do homem do conhecimento ir atrás.

30 de ago. de 2013

Grata desilusão

Lancei ao infinito meu desejo
E ele foi deitar onde o horizonte se expande.
Todo dia na praia te olho,
como se ao te admirar
te fizesse voltar.

Em uns dias meus olhos te trazem,
Em outros as ondas te levam.
Em uns dias danço, canto e te aceno:
suplicando que venha, te dizendo que espero.
Em outros choro tanto sua falta
que vejo as lágrimas que brotam de mim
correrem ao mar.

Nesses dias de nuvem, chuva e ressaca,
as ondas aumentam também em meus olhos
e te afastam ainda mais de mim.

Que dias tristes, que saudade eterna
De nem querer te ter.
Mas te quero e por mais que negue
Um raio de luz sempre vem
limpar as nuvens
secar meus olhos,
te avistar de novo.

Então mais um dia
canto e danço a esperança de te alcançar.
E tudo volta.
Tudo novo e tudo igual:
O desejo lá onde o horizonte se expande
E eu sempre aqui, onde a areia me assenta.

E se eu levantasse, te encontraria enfim?

Pois que me levanto!
Me atiro às ondas
Me lanço a ti
E nado, nado, nado
e nada!

A cada braçada,
mais longe o horizonte...

Continuo...
e nado
busco...

Paro!

Te desisto, desejo!
Te abro mão.

Não nado mais pra frente,
nem volto mais atrás.

Fico aqui
imersa
imensa
inteira.

Nesta vastidão de água
Neste infinito azul (verde, amarelo, incolor)
E aos poucos afundo,
ao fundo
ao fim.

Ao real.

Ao todo deste instante em mim.

Vou além do desejo,
encontro a desilusão.
Me sinto pronta pro amor.

12 de jul. de 2013

Ah, essa existência...
Esse deus tão grande,
que nos faz sentir o peso
de seguir seus desígnios,
estranhamente
através de lágrimas.
Quando sabemos ser,
no fundos,
essa a maior das alegrias.

8 de mar. de 2013

A Virada

Naquele ano fora preciso
tirar do peito um pedaço
Sugar do sangue um riacho
pra lavar a alma de si mesma.

Dizer não te amo,
pra gritar em seu ouvido
o quanto te queria.

Apostar na última carta
pra não deixar mais rastro pro talvez.

Sentir a beleza desfiando pela mão
pra encará-la de frente
e torná-la uma lição

Negar a morada
pra chorar a despedida
Matar o ébrio em si,
pra encontrar Dionísio e seus afins.

Ceder para ganhar
Estancar para caminhar
Emudecer para assim cantar
Ter a si mesmo depois de tanto desvairar

Ou santo ou louco

O rosto de Smierdiákov nada teria revelado a um fisionomista; nenhum pensamento, pelo menos, apenas uma espécie de contemplação. [...]. Se algém desse um encontrão nele, estremeceria  e olharia  como quem desperta, mas sem compreender. Na verdade, voltaria logo a si, mas se lhe perguntassem em  que pensava, certamente não se lembraria de nada, mas, em compensação, guardaria para si a impressão que o dominava durante sua contemplação. Essas impressões são importantes para ele e se acumulam nele sem que o perceba, mas ele ignora o objetivo disso. Um dia, talvez, depois de havê-las armazenadas durante anos, deixará tudo e partirá para Jerusalém, a fim de tratar de sua salvação. Ou então ateará fogo à sua aldeia natal, ou fará as duas coisas sucessivamente. Há muitos contemplativos em nosso povo. Smierdiákov era certamente um tipo assim e armazenava avidamente suas impressões, quase sem saber a razão disso.


Os Irmãos Karamázov