8 de mai. de 2009

Rito do dia

Na décima segunda casa,
seguindo pela estreita margem
do lago que a cidade encobre,
regia a família uma estrela virgem.
A mais nova e justamente a mais nobre.

Quem de longe ou de mais aproximado a notasse,
talvez se pusesse a parar por despercebido prolongado tempo.

A varrer, a ler, a pentear;
fosse feito que fosse,
era de se pasmar.

Serena,
tudo dela era bordado.

Figurava ritual e parecia que sabia,
sem saber ou sem querer,
que divindade está mesmo camuflada no disciplinado afazer do dia-a-dia.
Sempre repleto de infindáveis detalhes
repetidamente a entreter.

A notava,
todavia,
só aquele que,
igualmente,
ao espaço e ao tempo,
se rendia.

5 de mai. de 2009

Oferendas invertidas

Brilhos, cintilantes.
Detalhe no canto dos olhos.
Altos saltos, belas peças.
Pendura mais um ferro na orelha.
Pigmenta a cútis com desejos.

Vira num gole uma taça de conhaque.
Dança com ele até embaixo.
Sobe como outra em desencargo.

Som da caixa estalando.
Trompetes.
Sirenes.
É tudo agudo.
Aguça.
Nada de recusa.

Mergulha no barro,
Vira lama,
Germina flores.
Se traduz em Terra.

Desfaz.
Refaz.
Disfarça.
Sou substituta de mim mesma,
Às vezes e
por vezes.
Revezo egos aleatórios.

É capital.
O fútil nos desarma.
Nos rebaixa.
Nos amarra a redes estéticas avançadas.

E é tudo oferenda.

Ofereço a Diana Lucrecia,
as bacantes,
a Ogum.

Espirro de tinta borrada na camisa mal usada.
Gargalhada louca depois do fim do jogo.
Determinados deuses isso cobiçam.

Agradecem.
E nos emprestam,
veja só,
genuína sabedoria apolínea.