28 de jul. de 2018

Faz uma semana que voltei 
De onde?
Faz um mês que fui, não lembro bem o caminho.
As arestas estão abertas.
Fragmentos de história.

Mulher, conta a sua história!
Eu tento, mas ela vem como espirros
Apontamentos
Sem linhas de bordados que os unam.
Sem sono e sem comida na barriga,
Minha história.
Qual delas,
A mudez me consome
Gaguejo
Vomito
Devia estar dormindo.
Hoje é sábado
Como vou caminhar com os músculos cansados e os olhos ardendo?

Acabo de voltar da minha árvore genealógica
E ela está quase se apagando novamente dentro de mim.
Turbilhão da cidade,
Turbilhão em mim.
Meu mago me manda fazer tantas coisas que não faço.
Castigo?
Simplesmente desperdício da magia do possível.

Por isso sento, perco o sono, nua na cadeira.
São seis horas da manhã.
Não quero perder meus pensamentos,
São meus presentes
Mas continuo com a mania de recebe-los e não abri-los.

Minha avó sorrindo para meu afilhado.
Uma foto pra levar para meu tataraneto ou para quem quer que venha surgir nessa árvore que sou. Família, ancestrais.

Caminhei até o lago com ela,
Minha irmã, minha amiga.
Caminhamos.
Ali havia espaço para isso.
Na frente de nós uma árvore rosa cheia de borboletas abelhas fruindo de seu néctar. À frente de nós um algo, à esquerda uma casa de telhado curvo. Nós em pé no banco de madeira. Falávamos sobre e para nosso tempo. Queremos a vida e que a arte não impeça... Que a arte salve não afunde.

As palavras na madrugada cutucam.

Para onde vão esses rabiscos.
Peles de imagens.
Davi precisou escrever o que sabia.
Preciso ler o que escrevo.
Alto
Bem alto
Canta, canta, minha gente
Me cantou meu guia no dia da minha revolução.
Meus olhos pesam,
Mas a poesia me salva da mudez.
Canto.
Canto.
Canto.

E escrevo enquanto o dia ainda dorme.

(Rio de Janeiro, 2015)

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